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Há aproximadamente um ano atrás decidi ver o Sunshine de Danny Boyle. Sentei-me no sofá de telecomando em riste e carreguei no play. Passados 5 minutos aconcheguei-me lateralmente naquela que me pareceu ser uma posição mais confortável. Mas não era! Se me deixasse descair levemente e permitisse que a cabeça pudesse encaixar na parte lateral do sofá seria melhor. Agora sim, deitado, confortável. Aos 10 minutos de filme senti um quentinho reconfortante. Passados uns segundos estava eu a passear com uns cordeiros fofinhos numa estrada de arco-íris por meio de umas nuvens quando ouço uma enorme explosão e uma música estranha. Acordo assustado. Estavam a passar os créditos finais. Merda!
Take 2. Passaram entretanto 2 anos desde a minha última tentativa de ver Sunshine de Danny Boyle. Existe na mente humana um estranho fenómeno quando vamos rever um filme que não vimos na totalidade da primeira vez, nem que seja 10 minutos como foi o meu caso. Em primeiro lugar não há aquela urgência porque do pouco que vimos do filme limpámos a expectativa toda e deixámos apenas a curiosidade cinéfila. Quando se começa a ver o filme somos invadidos por uma ânsia de ir logo para o ponto onde ficámos da última vez. Mas quando vamos para esse ponto percebemos que já nos esquecemos do início e voltamos a ver a primeira parte. Compreendemos que estamos a perder tempo a rever uma coisa familiar e não prestamos atenção. Quando chegamos novamente ao ponto onde ficámos da primeira vez continuamos a não perceber nada porque não estivemos com atenção. Voltar ao início. Num misto de frete com atenção militar desta vez vai tudo correr bem. E corre. Mas só começamos verdadeiramente a apreciar o filme depois do ponto em que tudo é novo e não visto. Confusos? É que nem eu percebi bem o que escrevi… Conclusão: é complicado lidar com um filme meio visto. Continuando.
Uma nave espacial, uma missão quasi-suicida, uma tripulação no limite psicológico, espaços confinados e claustrofóbicos, deambulações filosóficas. A ciência tenta sobrepor-se a tudo, mas a filosofia religiosa é como erva daninha, nunca é erradicada e aparece onde menos se espera. É por estes ambientes que Sunshine se passeia. Sempre competente na narrativa e com a habitual astúcia técnica que Danny Boyle costuma meter nos locais menos esperados. Efeitos de iluminação, lentes estranhas, muito óptica. Algum CGI, até porque já ninguém faz naves espaciais com garrafas pintadas e pontas de fibra óptica com um foco por baixo. Danny continua em alta. Não o considero nos meus realizadores preferidos, não choro de antecipação pelos seus filmes. Mas quando aparecem são bem vindos e não costuma desiludir. Há também a questão Slumdog Millionaire, mas isso já foi aqui discutido até à exaustão há um ano atrás.
Sunshine é um bom filme. É um grande filme que só não entra na minha lista de fantásticos filmes porque não gostei do fim. Não é um fim horrendo, é apenas um fim que acho deslocado do resto do filme. Enquanto o filme tem uma atmosfera 2001 ou Alien, o final tem uma atmosfera Cube. É claramente um filme que merece final alternativo no DVD.
Apesar de não gostar muito de filmes de ficção científica que se metam na fronteira Ciência/Deus, o assunto está presente aqui em Sunshine mas de um modo implícito, em que cada cinéfilo tira as suas próprias conclusões. Não nos enfiam com a religião pelos olhos adentro. Deixa aberta a porta aberta à interpretação. E isso é bom, numa altura em que somos constantemente bombardeados com finais ao estilo “é isto e isto mesmo, burro de merda“.